30 de dezembro de 2011

Ano Novo



Aquela mesma paisagem
e os estilhaços de sempre,

durante dias e meses
de mais um calendário.

Penso que nada serei
(que nada continuarei sendo),
embora me digam o contrário.

20 de dezembro de 2011

As três infâncias de Mayrant Gallo




Encantador. Talvez seja esse o adjetivo que melhor defina o livro Três infâncias (Casarão do Verbo, 2011), a mais recente publicação do escritor Mayrant Gallo. Três histórias que nos expõem a uma visão da infância poética e dura, ao mesmo tempo. Os personagens principais são crianças que crescem tendo experiências de faltas e fracassos. [...]. Para continuar lendo, clique aqui.

17 de dezembro de 2011

O longo adeus, de Raymond Chandler

Raymond Chandler, um grande escritor do gênero policial noir
           
"Depois ela sentou-se e levantou-se da cama; foi até o banheiro para dar um jeito no rosto. Trouxe o champanhe. Quando ela voltou, estava sorrindo.
- Desculpe pelo choro. Daqui a seis meses não irei sequer me lembrar do seu nome. Traga o champanhe para a sala. Quero ver luzes.
Fiz o que ela disse. Sentou-se no sofá como antes. Coloquei o champanhe na sua frente. Ela olhou para a taça, mas não tocou nela.
- Terei de me apresentar? – disse eu – Tomaremos um drinque juntos.
- Como hoje?
- Nunca mais será como foi hoje.
Levantou a taça de champanhe, bebeu um pouco, lentamente, virou o corpo no sofá e jogou o resto na minha cara. E começou a chorar de novo. Tirei o lenço, enxuguei meu rosto e enxuguei o dela também.
- Não sei por que fiz isto. Mas pelo amor de Deus não diga que sou mulher e que uma mulher nunca sabe por que faz ou deixa de fazer qualquer coisa.
Servi um pouco mais de champanhe na sua taça e ri. Bebeu-a lentamente, depois virou-se para o outro lado e aninhou-se nos meus joelhos.
- Estou exausta. Você vai ter de me carregar.
Passado um tempo, caiu no sono.
De manhã ainda dormia quando me levantei e fiz café. Tomei um chuveiro, fiz a barba e me vesti. Foi então que ela acordou. Tomamos café da manhã juntos. Chamei um táxi e carreguei sua maleta escada abaixo.
Dissemos adeus um ao outro. Vi o táxi desaparecer. Voltei a subir os degraus e fui até o quarto; arrumei a cama. Havia um fio de cabelo comprido e preto no travesseiro. Havia uma massa informe na boca do meu estômago.
Os franceses têm uma expressão para isso. Os desgraçados dos franceses têm uma frase para tudo e estão sempre com a razão.
Dizer adeus é morrer um pouco."

(CHANDLER, Raymond. O longo adeus. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 365-366) 
 

13 de dezembro de 2011

Pensamento fúnebre














Andas triste, não sabes o porquê.
Tens amigos, família e um enorme tédio.

Os ruídos da cidade não te acolhem.

Querias ter nascido em outro tempo, outro lugar.
Só a arte te salvas o viver.

Não acreditas no homem, acreditas em Deus.

Mas ficas tímida se te apanham numa prece.

Questionas a existência, o destino, a tua rotina vazia.


Olhas para o mar, agitado, escuta o chamado
e sequer tens coragem.

10 de dezembro de 2011

Revista e prêmio Hera




No dia 06.12, no Palácio da Aclamação, em Salvador, através da Fundação Pedro Calmon e da UEFS Editora, foi lançada a edição fac-similar da Revista Hera, que reúne os 20 números da revista literária baiana, que circulou de 1972 a 2005. Idealizada pelo poeta Antônio Brasileiro, a Hera contou com o apoio e a participação de vários escritores, sobretudo, de Feira de Santana. 



Ontem, o meu amigo poeta Roberval Pereyr - integrante do grupo Hera - presenteou-me com um exemplar da nova edição da revista. Ainda estou aqui lendo, com enorme gratidão e prazer. Há alguns meses, conversando com outro integrante da Hera, o amigo poeta Wilson Pereira de Jesus, tomei conhecimento da edição nº 14, de 1982, em que todo o grupo homenageia o grande Carlos Drummond de Andrade, pelo seu aniversário de 80 anos. Reproduzo, logo abaixo, algumas relíquias (basta clicar nas imagens para aumentá-las):

Poema escrito por Wilson Pereira de Jesus

As assinaturas dos poetas da Revista Hera





Carta escrita por Carlos Drummond de Andrade



Para quem não conseguiu ler, está escrito:  

         Que coisa comovedora, o número especial de Hera assinado por todos os colaboradores, em honra de um poeta que completou 80 anos! Senti fisicamente a solidariedade, o carinho, o espírito fraternal dos companheiros mais moços, em torno de mim. E isto me fez feliz. Agradeço a vocês todos com o que melhor possa haver em meu coração. 

         Afetuoso e coletivo abraço de

                                                                   Carlos Drummond de Andrade

Agradeço ao amigo Wilson Pereira de Jesus por ter me cedido essas imagens. E aproveito para parabenizar a todos os poetas envolvidos nesse belo projeto que deu certo: a Revista Hera. Pena que não pude estar no lançamento da edição fac-similar, mas tenho certeza de que foi uma grande e merecida festa.

Quero divulgar, ainda, uma prévia do documentário Tempos de Hera, que será produzido pelo pessoal do movimento Bahiadoc - arte documento.

E falando em Hera, parabenizo também o meu amigo escritor Carlos Barbosa, vencedor do Prêmio Hera, na categoria obra publicada, e o amigo Paulo André, também ganhador, na categoria dissertação. Estou muito contente pelos dois.
 

5 de dezembro de 2011

Um presente poético

O poema abaixo, dedicado a mim e repleto de belas imagens, foi escrito pelo professor José Carlos Sant Anna - que mantém o blogue Tão Preto – Ausente de si mesmo. Fica aqui registrada a minha gratidão e o meu encantamento.















Tecendo

Para Lidi

De que serve a ternura
ou a carícia tão doce
do mar em plena lua cheia?

De que serve o vôo fácil,
rasante, nas cataratas do prazer,
se teu sangue não coagula?

De que servem as vogais
infiltradas no teu nome
roendo o fruto, a semente
se não irrigam tua vida?

De que serve o júbilo
se o mistério não existe
e o absoluto é um pecado
sob músculos e ossos?

De que serve o estigma
se a terra é tua vida
e a razão impele-a à dor
emasculando o grito?

De que serve o rio
náufrago, viúvo da insensatez,
que percorre tuas veias?

De que serve? De que serve?

29 de novembro de 2011

Outra



















                            
                         Sempre me acusei de ser eu mesmo.
                                        
(Pierre Drieu La Rochelle)

Não sei ser outra
que não eu mesma: angustiada
e triste.

Vivo tentando ser aquela
que não existe:
forte, segura, leve.

E por mais que a este sonho
eu me entregue,
o esforço é vão,
não consigo mudar.

E como é terrível, meu Deus,

– e doloroso – me aceitar.
 

27 de novembro de 2011

Herança

Dona Zezé, mãe do amigo Mayrant Gallo

1.
O frescor do seu abraço,
seu beijo carinhoso, seu colo,
sua doce voz a embalar
meu sono.

2.
O seu corpo sem vida,
palavras de consolo, choro.

3.
O seu cheiro no travesseiro,
sua imagem esquecida
no porta-retrato.






Poema inspirado na dor do protagonista da novela Moinhos, escrita por Mayrant Gallo, e na dor do meu amigo, que perdeu a sua mãe, Dona Zezé, no dia 18.

13 de novembro de 2011

Viagem

Penélope tecendo, de Giovanni Stradano
















Queria ter o poder
de me proteger da memória
de apagar da minha história,
qualquer vestígio teu.

Mas isso é devaneio meu,
eu nunca me escondo
vivo sob os escombros
do que restou.

Não tenho o domínio
dos meus pensamentos:
a todo o momento,
as lembranças batem
à minha porta.

A cabeça
não me obedece
e, enquanto a mão tece,
fico esperando
a tua volta.

12 de novembro de 2011

Eterno



Tenho de ti tanta saudade...
E sendo leve te atravesso
Como ao vento da tarde

VILMA, Ângela. Poemas para Antonio. Salvador: P55 Edições, 2010.



Saudades de Ângela, que é assim como a sua poesia: bela, leve, terna, eterna, alada. Acabo de chegar de viagem, estava em Brumado. E só agora pude vir aqui desejar um FELIZ ANIVERSÁRIO a minha amiga, que tanto adoro e admiro. Espero que ela me perdoe pelos dias de atraso. PARABÉNS, Aero, sinta-se abraçada. Você é uma amiga especial, sempre por perto, apesar da distância.

20 de outubro de 2011

Bienal do livro


Estarei na 10ª Bienal do Livro da Bahia, no dia 02.11, na
Praça de Cordel e Poesia, ao lado dos poetas Gibran Sousa e Raiça Bomfim, às 18 horas. Agradeço ao poeta José Inácio Vieira de Melo pelo convite. 
Nesse mesmo dia, às 19 horas, será o lançamento do novo livro do escritor Mayrant Gallo: Brancos reflexos ao longe. Espero vê-los por lá.

16 de outubro de 2011

Tardes com anões


(clique na foto para ampliar)

Os 7 anões, da esquerda para a direita: Igor Rossoni, Rafael Rodrigues, Carlos Barbosa, Mayrant Gallo, Lidiane Nunes (eu), Thiago Lins e Elieser César.

12 de outubro de 2011

O naufrágio


 



O noivo programou uma viagem de navio para a lua-de-mel. Não disse nada à futura esposa. Seria uma surpresa. Ele sempre pensou nisso, desde o início do namoro. Uma semana antes do casamento, porém, trocam beijos e carícias: ela e o amante. O noivo não queria acreditar no que os seus olhos marejados permitiam ver. Como no poema ceciliano, o sonho naufraga.

5 de outubro de 2011















No dia 14 de outubro, estarei na FLICA - Festa Literária Internacional de Cachoeira - participando de uma mesa que reunirá escritores dedicados à criação de minicontos. O convite foi de Gal Meirelles, da Fundação Pedro Calmon, a quem sou grata. Os feras que terei a honra de estar ao lado: Carlos Barbosa, Elieser César, Igor Rossoni, Mayrant Gallo, Rafael Rodrigues e Thiago Lins. Será às 19 horas, no espaço cultural Pouso da Palavra. Vamos?

Mais informações aqui.

2 de outubro de 2011

ANDRÔMEDA E OUTROS CONTOS

Confesso que ainda não conhecia a prosa de Ruy Espinheira Filho, apesar do autor já ter publicado contos, novelas e romances. O tom memorialista dos seus poemas já havia me encantado outrora, no entanto, com Andrômeda e outros contos eu me senti, completamente, transportada para muito longe dessa “rua vulgar, cinzenta” na qual habito.
Mas como não tenho pretensão de escrever crítica literária, até porque “Rilke dizia que não há nada mais distante da poesia do que a crítica, o que também serve para a ficção”, queria apenas deixar registrada a minha sensação ao ler os contos de Ruy Espinheira Filho: se “onde há literatura, sendo escrita ou lida, não há solidão”, posso afirmar que estive muito bem acompanhada por suas narrativas.
De fato, “o tempo passa, mas a memória fica” e isso acontece “para o bem ou para o mal”. E as pequenas histórias - epifanias - que o autor nos oferece, provam isso: as lembranças de um homem que, ainda menino, perde a inocência quando percebe que os aeroportos inauguram sem ele, levando o sonho, pois o mundo segue, mesmo com a nossa ausência; de uma senhora que, no final de sua vida, se encontra só, porque “de repente” todos morreram e nem a sua casa lhe restou, apenas a nostalgia e a preocupação com o filho, pelas estradas, “cada vez mais perigosas”; da irmã e do amigo de uma escritora que morre por se sentir cansada da espera de ver valorizada a sua literatura; de amigos que recordam um dia luminoso, de extrema clareza, e que não volta mais; enfim, as memórias de algumas almas leves e cintilantes a viajar pelo Tempo.
Ao ler Andrômeda e outros contos fui levada para frente daquela “porta verde num muro branco” como no conto de H. G. Wells. Ainda bem que não hesitei em adentrar esse mundo fantástico. Ainda bem que “existem editores que lêem os originais com capacidade de julgamento e aceitam arriscar seu dinheiro quando descobrem um bom texto. São raros, cada vez mais raros, mas existem”. Ainda bem que há iniciativas como as do Banco Capital e escritores como Ruy Espinheira Filho, que sempre nos levarão às portas verdes. E ainda bem que eu tenho um amigo escritor chamado Carlos Barbosa para me apresentar livros tão tocantes como o Andrômeda e outros contos.
      Só lamento mesmo não ficar sabendo o que era “aquilo no sovaco de Bira”.


30 de setembro de 2011



TEMPESTADE

Hoje,
acordei nuvem
e não consigo parar
de chover.

22 de setembro de 2011


"[...] sinto uma tristeza que já esperava e que vem só de mim. Que sempre fui triste. Que vejo essa tristeza nas minhas fotografias da infância. Que hoje essa tristeza, sentindo-a como a mesma que sempre senti, quase pode ter o meu nome, tanto ela se parece comigo."

DURAS, Marguerite. O amante. Rio de Janeiro: Editora Record, 1984.

11 de setembro de 2011


DOMINGO

Antes,
eu contava as horas
para te ver.

Agora,
só quero que chegue
a noite, para voltar
a adormecer.

8 de setembro de 2011












CHOCOLATES E FLORES
 
Essa semana, ganhei de uma amiga linda – Daniela Rodrigues – uma caixa repleta de chocolates e de flores. E nela havia, também, dois cartões. No primeiro, estava escrito: Chocolates, para adoçar um pouco o amargo da vida e, no segundo: Flores, para tornar a vida um pouco mais leve. E minha vida, sem dúvida, ficou mais doce e mais leve. E não, apenas, pelos chocolates e pelas flores, mas por tudo que chegou até mim, escondido por trás da leveza das flores e da doçura dos chocolates: o carinho, a amizade, a preocupação, a atenção, o tempo que ela dedicou para montar um presente tão lindo e delicado. E diante de tudo isso, sei que o tanto que eu agradecer, aqui, ainda será pouco.

5 de setembro de 2011

Recebi duas demonstrações de carinho e amizade, duas belas poesias: PARTILHA, do amigo e padrinho Thiago Lins e DESCOBERTA, da amiga Marcela Soares. Estou sem palavras, emocionada mesmo. Nem sei mais como agradecer. Com certeza, "a amizade é coisa séria, talvez mais que o amor." (Eric Rohmer)















PARTILHA
Para Lidi Nunes

Queria consertar tudo
com uma máquina do tempo

Queria cantar uma canção
para embalar os homens
(Ah, Drummond!)

Queria contar que sim,
a vida vale a pena,
e morreremos todos felizes

Queria escrever um
verso,
partilhar sua dor,
e dizer também que sim,
morremos de amores

Mas a vida não se altera
(Ah, Olavo!)
e a tristeza em mim
só permite doar
este poema.












DESCOBERTA
para Lidi Nunes

No verdeazular
vasculhas...

Pedra, areia,
molusco!

À enseada de meu coração
admiras molemente um ponto.

Abres à faca
minha umidade

sorves a viscosidade
e meu ser.

E ostreia-me.
Escorrem pérolas...

Pérolas?
Calcificarei-lhes.

Sou concha,
em mar aberto, bravio.

4 de setembro de 2011

Um desabafo, apenas
















Alguns amigos têm me ligado para perguntar como estou, estranhando a minha ausência do mundo virtual. A verdade é que não gosto de expor os meus problemas, fico sem graça, pois parece que estou me fazendo de vítima, pedindo palavras de consolo. E não é nada disso, sei que minhas dores são só minhas. Mas, de certa forma, preciso de um desabafo. Não ando bem. Parece que quando uma tempestade nos alcança, não vem sozinha. A minha mãe diz que "um abismo chama outro abismo". Como se não bastasse o motivo da minha recente tristeza, estou passando por dificuldades no cursinho que sou sócia, quase tendo que entrar numa ação judicial; perdi um celular novinho, que tinha acabado de comprar; estou sentindo fortes dores nas costas - fui parar na emergência de um hospital - sem saber a real causa delas; minha irmã do meio está se recuperando de uma histerectomia e a mais velha internada, depois de um princípio de derrame. Não paro de me perguntar o porquê de tantos problemas de uma só vez. Será que tenho tanto pecado assim? Queria ser forte, passar por todas essas coisas de cabeça erguida, sem perder a alegria. Mas esta pessoa não sou eu. E a cada dia que passa, torno-me mais cética em relação à vida, à humanidade. Sim, hoje estou naqueles dias que preferiria mesmo não existir, como diria Bartleby.

"Existirmos: a que será que se destina?" (Caetano Veloso)

27 de agosto de 2011

Acho que precisava passar por momentos de tristeza para perceber que tenho grandes amigos. E o poeta Paulo André - que mantém o blogue Intestino Grosso II - é um deles. Obrigada, amigo Paulo, por tuas "palavras belas".



Queria te dizer palavras belas, amiga,
palavras que lavassem tua dor e tristeza.
Mas sou da estirpe dos desiludidos,
Por isso, só posso te dizer, amiga:
“A vida não vale a pena e a dor de ser vivida.
Os corpos [às vezes] se entendem, mas as almas não”.

22 de agosto de 2011
















O que fazemos quando um relacionamento termina? Como agimos se ainda o amamos? Onde escondemos este sentimento que quer explodir da caixa do peito? No fundo da mala, debaixo da cama, dentro da gaveta?  Para qual direção olhamos, se tudo a nossa volta nos faz lembrar dele? Nos apaixonamos outra vez? Por que sofremos por amor? Será que, um dia, a gente esquece?

19 de agosto de 2011

No domingo passado, comentei no Estranhamentos - blogue da minha amiga escritora Mônica Menezes - que eu estava triste. Ela não precisou me perguntar o motivo das minhas dores para me escrever um bilhete-poema lindíssimo e fazer a leitura da minha alma. Mônica tem esse dom. E eu fico tão emocionada ao saber que tenho amigos especiais que me querem bem. Vejo que não estou mesmo sozinha. E só me resta agradecer por todo esse carinho.





















Bilhete


Para Lidi

oh, querida amiga,
se você morasse nesta cidade
eu te convidaria para um chá de maçã com canela na minha casa
e conversaríamos horas a fio sobre nossos abismos
enquanto uma chuva fina caísse lá fora

escuta
viver é sempre desmesurado difícil
mas há tanta beleza ao longo dos caminhos

agora mesmo
a senhora vizinha começou a cantarolar uma valsa triste
lembrando-se, talvez, de um grande amor

17 de agosto de 2011



















A MENINA E O PÁSSARO

A menina sempre soube que era frágil demais, que sofria antes do tempo, que chorava à toa. A professora da menina, um dia, disse à sua mãe: - Essa sua filha é um cristal. A menina sempre foi muito protegida por todos. Um dia, a menina encontrou um pássaro, em cima de uma árvore, ferido, e ela o amou como nunca tinha amado na vida. Mas a menina não soube cuidar do pássaro e, ao invés de curar as suas feridas, ela as tinha deixado abertas. O pássaro andava triste e a menina achava que ele se contagiara com uma tristeza que era dela, desde pequenina. De repente, a menina cresceu e decidiu que iria levar o pássaro para casa e fazer, de uma vez por todas, com que aquela dor que ele sentia passasse. A menina acreditava que o mundo a ensinaria ser mais forte e que sempre haveria uma segunda chance. E quando a menina se entregou de corpo e alma a este sonho e foi ao encontro do pássaro, ele não mais estava lá.

15 de agosto de 2011

A persistência da memória - Salvador Dalí (1931)















ETERNO

Haverá um tempo
em que
o nosso encontro
será sem despedida,
o meu relógio,
sem medida
e o meu calendário,
sem data.

Haverá um tempo
em que poderei ser tua,
inteiramente tua,
mais nada.

10 de agosto de 2011

 

FERIDA

Como uma borboleta que acaba de sair do casulo, descobre que pode voar e tem as suas asas arrancadas por um menino cruel que sente prazer em brincar de Deus. Assim eu me sinto.


7 de agosto de 2011

METADE
Composição: Adriana Calcanhoto

Eu perco o chão
Eu não acho as palavras
Eu ando tão triste
Eu ando pela sala
Eu perco a hora
Eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim.

Eu perco as chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos
Eu estou ao meio
Onde será
Que você está agora?

4 de agosto de 2011



















VAZIO


Sozinha,
no meu quarto frio,
cheirando a mofo,
tento decifrar
quem sou.

Horas e horas,
devorando-me:
apenas dúvidas,
incertezas,
mais nada.

E eis que eu,
que já acolhi tantas
dentro de mim,
me descubro casa
desabitada.

27 de julho de 2011

DECLAMAÇÃO E RESENHA

No vídeo abaixo, o poeta José Inácio Vieira de Melo - organizador da coletânea Sangue Novo: 21 poetas baianos do século XXI - declama a poesia Travessia, de minha autoria. O recital aconteceu durante o lançamento do livro, na Livraria LDM, em Salvador, dia 23 de julho de 2011.



22 de julho de 2011

















ENTREVISTA

Aqui estou a fim de compartilhar com vocês uma entrevista feita comigo no blogue JnC Portal: O ciberespaço do Jornalismo Cultural. Aproveito para agradecer à escritora Nívia Maria Vasconcellos, por ter me dado a oportunidade de falar sobre arte, literatura, poesia: algumas das minhas maiores paixões.

12 de julho de 2011

(clique na imagem para ampliar)
CONVITE 

A coletânea Sangue novo – 21 poetas baianos do século XXI, publicada pela Escrituras Editora, de São Paulo, terá lançamento em Salvador, no dia 23 de julho de 2011, das 10 às 14 horas, na livraria LDM Multicampi, na Rua Direita da Piedade. Sangue novo conta com organização do poeta José Inácio Vieira de Melo e com apresentação do escritor Mayrant Gallo. A ilustração da capa é de Fernando Aguiar, artista plástico e poeta português. Os 21 jovens poetas participantes são: Alexandre Coutinho, André Guerra, Bernardo Almeida, Caio Rudá de Oliveira, Clarissa Macedo, Daniel Farias, Edson Oliveira, Érica Azevedo, Fabrício de Queiroz, Gabriela Lopes, Georgio Rios, Gibran Sousa, Gildeone dos Santos Oliveira, Janara Soares, Lidiane Nunes, Priscila Fernandes, Ricardo Thadeu, Saulo Moreira, Vânia Melo, Vanny Araújo e Vitor Nascimento Sá.

26 de junho de 2011

Mauro Piva, sem título, massa modelar, 2000.



















NADA

Toc! Toc! Não tem nada aqui, só uma pedra a rasgar-me por dentro. O rio que habita em mim já não derrama letra alguma. O olho secou, o lábio secou, a vida secou. O cheiro de mofo a impregnar-me as narinas, o sentimento de morte a avassalar o meu peito. Toc! Toc! O outro insiste. Tudo é secura, eu já disse. Secura sem verbo, secura da carne, secura. Só o formol a preservar o meu corpo, sem rosto, sem vida, sem nada. Tic-tac. Passa o tempo, nada a passar, só há falta. A falta a caminhar com o tempo; o tempo a apontar para morte. A vida é pétrea, disse o poeta. Nada me resta, nada é o que resta, só o fim permanece: penso comigo. A palavra exilou-se de mim, levando consigo a alegria, a tristeza. Ficou esta pedra a cavar-me um vale profundo, sem cor, sem dor, sem beleza, do tamanho da tampa que cobre o universo.  

Adriano Alves

12 de junho de 2011

A ponte, de Claude Monet


















TRAVESSIA
Para Adriano Alves

O que há entre a vida e a morte? Uma curta ponte.
                                             Machado de Assis

O tempo corre
sem pressa
e a caminhada
me cansa,
sinto uma eterna ânsia
em chegar.

Olho para a frente
e quero ver
além da estrada,
além do que posso
imaginar.

Os anos passam,
tudo é sem graça:
o amanhã parece igual
ao que é hoje
ao que foi ontem.

Mas,
se sigo ao teu lado,
tudo é mais fácil:
porque ganho asas
para atravessar
a ponte.