23 de dezembro de 2010














Leituras cósmicas: Portal 2001 e a nova ficção científica brasileira

Coordenado pelo escritor e ensaísta Nelson de Oliveira, o Projeto Portal é uma série de revistas que tem contribuído expressivamente para a valorização de um gênero literário ainda desconhecido para muitos leitores: a ficção científica.

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7 de dezembro de 2010















Naquela estação
Composição: João Donato / Caetano Veloso / Ronaldo Bastos

Você entrou no trem
e eu na estação
vendo o céu fugir
Também não dava mais
para tentar
lhe convencer
a não partir

E agora, tudo bem
você partiu
para ver outras paisagens
E o meu coração embora
finja fazer mil viagens
fica batendo parado
naquela estação

27 de novembro de 2010

Coleção NOVA LETRA

Com muita alegria, venho anunciar o lançamento - que acontecerá na noite do dia 2 de dezembro, durante a 9ª Semana de Letras da UEFS - do primeiro livro solo do meu amigo Thiago Lins, intitulado Gotas. Trata-se de uma publicação do selo Nova Letra, do Museu de Arte Contemporânea, de Feira de Santana, que privilegia autores locais. Será um livrinho modesto, todavia, muito especial. 

Thiago é o meu padrinho de formatura e um amigo como poucos, um amigo que quero cultivar eternamente, além de ser um ótimo escritor de poemas e minicontos. Abaixo, uma pequena amostra da prosa do autor:



QUIETUDE
 
Uma quietude tomara conta do lugar. Aos poucos, as pessoas entravam e se aproximavam de mamãe. Estendiam os braços, e ela, um tanto trêmula, fazia o mesmo. 

Enquanto os cumprimentos se sucediam, encaminhei-me até papai. Ele estava bem vestido. O caixão, bem ornamentando.  

Mamãe continuava a receber cumprimentos. E em meio à quietude que tomara conta do lugar, papai soltou um longo suspiro de insatisfação.

30 de outubro de 2010



DEUS
Para Mayrant Gallo

A única crença
que me resta.

25 de outubro de 2010













Mario Quintana e o cânone: um reconhecimento tardio

Mario de Miranda Quintana nasceu na cidade de Alegrete, Rio Grande do Sul, no dia 30 de julho de 1906. Estudou os primeiros anos em sua cidade natal, mudando-se em 1919 para Porto Alegre, onde publicou as suas primeiras produções literárias. Além de ter trabalhado cinco anos em farmácia paterna, foi empregado de vários jornais. Traduziu mais de cento e trinta obras da literatura universal. Em 1940, lançou o seu primeiro livro de poesias, A rua dos cataventos, iniciando a sua carreira de escritor. 

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13 de outubro de 2010

















CHUVA

Contemplava a tempestade. Sempre gostou de fazer isso. Sentia-se bem. Limpa. Mas, naquele domingo, o que para ela era uma espécie de ritual, tinha um significado maior. Estava prestes a tomar a decisão mais difícil de sua vida. Passou a noite escrevendo. Agora se encontrava ali, parada, os olhos vidrados na janela. Enfim, moveu-se. Caminhou até a cozinha, abriu uma gaveta. Depois de alguns segundos, estava no quintal, tomando banho de chuva, purificando-se, lavando o vermelho que escorria de suas mãos.

10 de outubro de 2010















O SOL POR TESTEMUNHA

Adaptação livre do romance policial O talentoso Ripley (1955), de Patricia Highsmith, o filme O sol por testemunha (1959), dirigido por René Clément, promove no espectador um deslocamento e uma subversão: o ponto de vista é o de um assassino, e estranhamente não o repudiamos.
Tom Ripley (Alain Delon) faz um acordo com um milionário, que deseja o filho, Philippe Greenleaf (Maurice Ronet), de volta aos EUA. Ripley aceita a missão em troca de uma generosa quantia. Parte, assim, para a Itália, onde Philippe vive com a namorada, Marge (Marie Laforêt). Philippe é um típico playboy, que não tem muitas preocupações, a não ser a de gastar dinheiro e curtir a vida. Ripley, por sua vez, é um jovem pobre, mas com inúmeras habilidades, como, por exemplo, o grande talento em imitar a voz e os gestos de uma pessoa, bem como o de falsificar assinaturas. Philippe apenas tolera Ripley enquanto este o serve como um brinquedo, enquanto o diverte. Finda a brincadeira, é preciso colocá-lo em seu devido lugar. O tempo todo Philippe humilha o "amigo", chegando ao ponto de deixá-lo, por várias horas, exilado num bote amarrado ao barco em que estavam, sob um sol escaldante, causando-lhe forte insolação. Ripley, cínico e com a fina ironia que lhe é peculiar, finge não se importar com isso. No entanto, como já invejava Philippe, sua fortuna e sua namorada, vê neste fato a justificativa perfeita para o plano que tinha arquitetado: matar Philippe. E ele o faz, tendo o sol mediterrâneo, às suas costas, como a única testemunha. E em lugar da escuridão da noite, o sol inclemente, quase branco de tão intenso: o que representa uma quebra de regra do que se convencionou chamar de cenário ideal para um filme noir.
Ripley assume, então, a identidade de Philippe, toma posse dos seus bens e conquista a sua namorada, Marge. Tudo perfeito, se não fosse por um pequeno detalhe: ter deixado um vestígio do crime: o corpo de Philippe, emaranhado ao casco do navio, e que será descoberto no desfecho do filme. Na referida sequência, Tom Ripley está na praia e é chamado para atender a um telefonema, sem saber que policiais o esperam. Não é necessário explicar o que vai acontecer depois disso. O espectador já sabe. Por isso, o desenlace é apenas sugerido. Sugerido, pois Ripley, destro e escorregadio, é capaz também de se esgueirar da polícia. Portanto, o final é aberto.
 Além de uma envolvente história policial, O sol por testemunha conta com uma bela fotografia e excelentes atuações, com destaque para o francês Alain Delon. E, como já foi dito, nos acontece uma estranha transformação ao assistir a este filme: criamos uma forte empatia com o criminoso, não conseguimos sentir raiva de Tom Ripley. Contemplamos seus atos até com certo pesar, sem dúvida, mas sem detestá-lo, condescendentes; talvez devido à sua beleza e ao seu charme, que, no caso, são de Alain Delon. É, talvez.

1 de outubro de 2010















Eu tenho um amigo muito especial, o Anônimo, um escritor de belos poemas e minicontos, que resolveu entrar no jogo da blogosfera. E eu estou aqui, simplesmente, para divulgar o blogue dele, pois embora ele insista em continuar No anonimato, seus versos precisam ser lidos. A literatura agradece.

18 de setembro de 2010













Um passeio pela contística de Mayrant Gallo

Reconhecido por críticos literários da estirpe de Hélio Pólvora e Miguel Sanches Neto, Mayrant Gallo desponta no cenário literário, não apenas baiano, mas brasileiro, como um dos melhores contistas da contemporaneidade. Suas narrativas mostram personagens, na maioria das vezes, em situações-limite, sob a atmosfera da cidade, que mais exclui do que acolhe. 

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15 de setembro de 2010

A SEGUNDA SOMBRA

De novo, mais um lançamento que não poderei comparecer. Sim, porém, ainda tenho esperança de, um dia, morar em Salvador, afinal é a minha terra natal. Não pretendo ficar a vida toda aqui, neste lugar que não é meu. Embora eu não saiba onde é, de fato, o meu lugar. Mas vamos esquecer os meus devaneios. Estou aqui para deixar o convite abaixo aos leitores deste blogue. Não percam este evento, aproveitem a oportunidade que eu não tenho. Se eu vou ficar sem o livro? Claro que não. Deus é generoso comigo: possuo amigos. Já pedi para comprarem o livro para mim. E só estou aguardando, ansiosa, pelo momento de ler A segunda sombra, de Carlos Barbosa.




















ENCHENTE

O rio venceu o cais, invadiu a praça, subiu os degraus da igreja.
Minha mãe, protegida e a seco, foi lá ver:
- Que tragédia, meu Deus! Mas como é bonito!

Carlos Barbosa, em A segunda sombra, livro que será lançado no dia 18 de setembro de 2010, a partir das 10h, na LDM, Salvador.

7 de setembro de 2010


ANGÚSTIA

Fecho a porta.
Abro a janela.

Deito.
Levanto.

Saio.
Retorno.
Meu corpo não se aquieta.

Nem meu coração
pára.

30 de agosto de 2010

Como havia anunciado na postagem anterior, não fui ao lançamento dos livros de Ângela Vilma e Mônica Menezes. Confesso: perdi o que era imperdível. No entanto, Mayrant Gallo, gentilmente, comprou os livros e me enviou por Andréia, sua esposa, que ensina na UEFS. Sou  grata aos dois, por tudo. Com os livros em mãos, nem esperei chegar ao conforto do meu lar para iniciar a leitura. Contudo, logo me veio um questionamento: eu estou lendo ou estou sendo lida? Quintana nos ensinou: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!”. Os versos de Mônica, sempre leves, fizeram uma leitura de mim, com seus gritos, seus silêncios, suas máscaras, seus mares e suas borboletas. Nem sei mais o que comentar. Diante deles, como escrevi, certa vez: "só me resta / dizer sim".


SOLUÇO
Para Monalisa 

todos os meus soluços são relâmpegos
anunciam trovões e tempestades

mas apenas anunciam

todos os meus gritos são soluços
todos os soluços silencio


MENEZES, Mônica. Estranhamentos. Salvador: P55 Edições, 2010. 



E a poesia de Ângela? Eu ia lendo os seus versos e pensando: quero escrever assim quando eu crescer. O que é praticamente impossível, eu sei, mas não custa nada sonhar. Os versos de Ângela me envolveram de forma especial: repletos de solidão, ausência, inquietude, silêncio, saudade, cansaço e, ao mesmo tempo, cheios de amor, ternura, entrega, carinho, sentidos, revelando uma menina-mulher clamando por Antonio. Sem dúvida, a leitura de Poemas para Antonio e de Estranhamentos me proporcionou um prazer imenso, daqueles que só a arte, a literatura, a genuína poesia podem proporcionar. 


PARA ADORMECER

Dê-me, amigo,
Tua paciência pela vida
E me faça desistir do cansaço
Dessas noites e de tantas outras.

Pressinta meus gestos guardados
Retire-os dos baús entulhados
Tocando-os com dedos esquecidos.

Depois,
Não me fales da vida.
Guardemos a alegria silenciosa.

VILMA, Ângela. Poemas para Antonio. Salvador: P55 Edições, 2010.

22 de agosto de 2010

Lançamento IMPERDÍVEL
 
















Ângela Vilma e Mônica Menezes estarão lançando os seus livros, respectivamente, Poemas para Antonio e Estranhamentos, na livraria Tom do Saber, no dia 24 de agosto. Estou muito feliz. Esperei muito por este lançamento. As duas, além de pessoas e escritoras maravilhosas, são minhas amigas. A minha alegria só não está completa, porque não poderei comparecer. Sim, eu sei que coloquei no título do post que este é um lançamento imperdível e, de fato, é. Mas, para o meu grande desgosto, não moro em Salvador e ficou complicado o meu deslocamento, na terça. No entanto, não poderei estar lá fisicamente, mas me deslocarei em pensamento e coração. E já pedi a um outro escritor, amigo meu, para comprar os livros para mim. Autografados, claro. E, por favor, não façam como eu, prestigiem este grande evento, garanto que sairão de lá encantados. Eu tenho certeza.

Visitem o blogue: http://angelaemonica.wordpress.com/

15 de agosto de 2010

Lendo a antologia, organizada por Assis Brasil, A poesia baiana do século XX, deparei-me com os versos abaixo, da itabunense Valdelice Pinheiro Soares, falecida em 1993. Sem dúvida, um poema que eu gostaria de ter escrito. 














RABISCOS

Deixo que a mão vá
como se fosse asa
e traga do silêncio
de mim
o riso,
ou a palavra
que eu não digo,
ou a música
que eu não faço.
Deixo que a mão vá
e busque
na solidão
de onde não me sei,
o risco que me traça
o grito,
a linha que me traz
a voz.
Deixo que a mão vá e,
como se fosse um deus
fiando luz,
me crie
de meu nada.

6 de agosto de 2010

DESLOCAMENTOS

Nunca estive muito satisfeita com o título do meu blogue. No entanto, por falta de criatividade, fui deixando IMAGENS E PALAVRAS. Ontem, resolvi mudar. Comecei a pensar em outros títulos. Sempre gostei muito do Estranhamentos, que é o título do blogue da minha amiga M., pois, quase sempre, me sinto assim: estranha. Tentei, então, pensar em uma outra palavra com a qual eu também me identificasse e, logo, me veio à mente: deslocada. De fato, é muito comum me sentir completamente deslocada, com a impressão de que estou no lugar errado, de que deveria estar em outro lugar. E, quando me sinto deste modo, o meu refúgio é a arte: pego um livro para ler, assisto a um filme ou entro na internet para escrever no meu blogue ou para visitar os blogues dos "amigos, que falam a mesma língua", como escreveu a minha amiga Aeronauta.

Cheguei a conclusão de que quando não me sinto bem onde estou, este espaço virtual é um dos lugares para os quais me desloco. Aqui é um caminho a seguir. Aqui mudo de direção, acho um rumo. Aqui sinto que é, também, o meu lugar. Aqui me encontro e encontro os amigos que falam a mesma língua. Portanto, acredito que DESLOCAMENTOS é o nome que melhor define o meu blogue, porque melhor define a mim. Espero que vocês aprovem a mudança. 

No mais, quero aproveitar o momento e publicar um poema que escrevi, há um bom tempo, e que dediquei a minha amiga escritora Renata Belmonte, pois foram nos textos postados por ela, em seu blogue, Vestígios da Senhorita B., que eu encontrei a inspiração para escrever os versos abaixo:



Deslocamentos
Para Renata Belmonte

Não me identifico aqui.
Não me reconheço ali.

Encontro-me numa estrada,
Seguindo...

Surgindo de mim.

25 de julho de 2010

Celebrando a vida... e a arte

Hoje, 25 de julho, dois amigos escritores fazem aniversário: Mayrant Gallo e Wilson Gorj. Em 2005, tive a grande oportunidade de ser aluna de Mayrant, a quem sou eternamente grata, pois devo a ele muito da paixão que nutro pela literatura, pelo cinema. Foi o Gallo quem também me aprensentou ao Gorj, ano passado. Então, entrei no blogue desse escritor paulista e fiquei encantada com o jogo que ele faz com as palavras. E nada melhor para celebrar a vida desses meus amigos leoninos do que postar aqui os seus escritos. Parabéns Mayrant, parabéns Gorj. A arte de vocês é o nosso maior presente.















História da Arte

Só o brilho do lustre acima de suas cabeças já era mais intenso que o de todas as bombas jogadas sobre Berlim naquela semana. E ainda havia o fulgor da louça e dos talheres, dos olhos e das bocas sorridentes, das joias ornamentando colos e das medalhas nos impecáveis uniformes.
À mesa, o oficial alemão de patente mais alta voltou-se para Picasso:
- Foi o senhor quem pintou Guernica?
- Não. Foram os senhores.

GALLO, Mayrant. In: Nem mesmo os passarinhos tristes. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.
















A voz

Não basta. É preciso 
saber o que dizem os olhos.

GORJ, Wilson. In: Prometo ser breve. Rio de Janeiro: Multifoco, 2010.

19 de julho de 2010

Lua













     

                  Que há noite antes e após,
                        O pouco que duramos.
                                   (Ricardo Reis)


Fico triste
quando contemplo o céu
e confundo as fases
daquela que a escuridão
ilumina.

Então, vem a razão
e me pergunta:
que importância tem isso?

O dia sempre termina.

5 de julho de 2010

TEMPO BOM, contos














O dinheiro arrecadado será para as vítimas das enchentes em Pernambuco e Alagoas. O lançamento do livro, na Livraria LDM, em Salvador, contará com a presença dos escritores: Lupeu Lacerda, Lima Trindade e Gustavo Rios.


1 de julho de 2010

Carta aos passarinhos tristes


Dias atrás, escrevi um apenas comentário - sim, um tanto longo, confesso - sobre o  livro de Mayrant Gallo, Nem mesmo os passarinhos tristes, e o enviei ao autor, como uma forma de demonstrar o quanto apreciei a leitura do livro. O comentário foi publicado e, embora eu não o tenha escrito com esta finalidade (percebe-se pelo tom informal), sou grata ao Gallo e ao Lima pelo espaço na Verbo 21. E aqui está a Carta aos passarinhos tristes.

21 de junho de 2010














HELL 

       O meu mestre e amigo, Mayrant Gallo, indicou-me o filme francês Hell (2009) de Bruno Chiche, baseado no romance de Lolita Pille. Ontem, assisti a este filme que possui dois personagens principais: Hell (Sara Forestier) e o seu namorado, Andrea (Nicolas Duvauchelle).
Não, não irei contar todo o enredo do filme. Apenas adianto que Hell e Andrea vivem um relacionamento amoroso, mas não ficam juntos. É verdade, revelei o desfecho do filme, mas o que interessa é o como, não é mesmo? Precisava desvendar a separação do casal protagonista para confessar que, quando comecei a suspeitar desse final, torci muito para que eu estivesse errada - era o meu romantismo falando mais alto.
No entanto, quando percebi que o final era, sim, aquele previsto, pensei: de fato, o filme vai acabar desta forma, porque necessita acabar dessa forma, afinal o seu assunto não é o amor de dois jovens que se encontram e vivem felizes para sempre. O assunto do filme é a vida absurda, desajustada; é o não-pertencimento, é o tentar ser o que não é; é o deslocamento, é o tédio; é o jovem que tem tudo e só lhe resta o nada, o fazer nada, além, é claro, de chorar na rua e nos bares, de transar e de se drogar; é o aborto do filho indesejável cujo pai se desconhece; é a família fracassada; é a mãe que não espera, de madrugada, pela filha, mas pelo marido; é o pai que não tem nenhuma moral para reclamar da hora que a filha chega em casa, porque ele chega mais tarde ainda; é o pai que nunca atende ao telefonema do filho, mas o presenteia com um belo carro para compensar a sua falta... 
Enfim, o assunto, ou melhor, os assuntos são esses (e, certamente, outros), tantos e em um único filme. Sim, Hell e Andrea não ficam juntos, mas, analisando bem, isso não tem a menor importância.

16 de junho de 2010

Casamento












Queria escrever algo
sobre mim
e sobre o outro.

Mas um outro
já escreveu tanto
sobre mim,

que só me resta
dizer sim.

22 de abril de 2010


POÉTICA

Para Mônica Menezes

Escrevo como quem cala.
Escrevo para descobrir
a nudez
da minha voz.

As minhas palavras
são gritos,
que perderam a coragem
de ecoar.

12 de abril de 2010












MEU MEDO

Todos os dias, caminho
sobre pedregulhos
e espinhos.

Meus pés estão gritando
precisam de repouso.

Mas eu não pouso.

Tenho medo de me acostumar
à insuportável idéia
de viver sepultada
num mesmo lugar.

19 de março de 2010



METAMORFOSE

A lagarta rasteja,
prisioneira
da natureza.

A borboleta voa,
liberta,
ganha os mares.

E eu,
que não nasci lagarta,
nem borboleta,
sei ser apenas:
casca.

8 de fevereiro de 2010

Em homenagem ao pai da pequena Yasmim, o meu amigo escritor Georgio Rios, que mantém o blogue Modus Operandi e que está fazendo aniversário hoje, publico aqui um poema - que adoro - de sua autoria.















PÁSSARO


Voa pássaro
Que tuas asas são livres e tuas.

Voa e do teu ninho, segura morada,
Zomba dos homens
Sós e loucos
A voar em asas de aço,
Que não são suas.

Voa pássaro
Que tuas asas são livres
e tuas.

10 de janeiro de 2010















RUÍNAS

Resolveu ir à praia. Fazia tempo que não descansava um pouco, que não se dava esse direito. Pela primeira vez, depois de muitos anos, estava repleto de planos, de esperanças. Não queria ficar em barraca alguma. Sentou-se bem pertinho das águas, a fim de observar melhor o vai e vem das ondas. E como uma criança, começou a remexer a areia, a juntá-la com as mãos, a construir algo parecido com um castelo. Parou. Gastou alguns segundos apenas contemplando a sua grandiosa criação. De repente, o mar...

1 de janeiro de 2010


 
MAIS UM ANO

Sempre fui cética em relação à passagem de ano. Para mim, trata-se de uma mera mudança de calendário, tudo continua como antes. Porém, ainda assim, é tempo de fazer balanço e de desejar que, nos próximos 365 dias, os nossos projetos - ou, pelo menos, a maioria deles - sejam concretizados. Nessa época, temos a ilusória sensação de que a vida foi renovada. E, não nego, isso até que é bom. Então, ótimo 2010, repleto de saúde, paz e grandes conquistas.