25 de dezembro de 2013

O jogador

Os jogadores de cartas, de Cézanne















     Apostou alto. Imaginou que ganharia de novo. Era bom nisso. Há anos frequentava o cassino. Perdia algumas vezes, mas, ao final, sempre saía satisfeito. Quase não parava em casa, pouco via a mulher e a filha recém-nascida, mas o que importava mesmo era dar o conforto que elas mereciam. Como suspeitara, ganhou mais uma vez. E, apesar de grande jogador, nunca havia faturado tanto. Definitivamente, era o seu dia de sorte. Nem acreditava na quantia que iria entregar à família. A mulher, que andava chateada com ele, ficaria contente. Agora, ela ainda estaria nos trilhos, indo visitar a mãe. Mas assim que ela chegasse de viagem, ele contaria a novidade. Não via a hora. Rindo alto, levantou-se, apanhou o chapéu e preparava-se para sair quando um colega o segurou no braço e falou, desconcertado, sobre o acidente de trem. Ainda absorto, ele pôs a mão no bolso, depositou todo o dinheiro sobre a mesa e, em silêncio, atravessou a porta.