1 de dezembro de 2009













  

SANGUE NOVO

Apesar de ter ficado um pouco afastada daqui, retorno, muito contente, para compartilhar com vocês uma entrevista feita comigo e publicada no blogue do poeta José Inácio Vieira de Melo, o Cavaleiro de Fogo, a quem sou grata pela oportunidade e pelo espaço que me foi, gentilmente, cedido. 

25 de outubro de 2009


(IN)DECISÃO

Como um peregrino,
eu sigo.

No meio do caminho:
duas rotas

e meu olhar vago,
perdido. 

10 de outubro de 2009

Aqui estou para compartilhar com vocês mais um texto. Agora, de uma amiga super talentosa.  No entanto, ela prefere não ter a sua identidade revelada. Então, escreverei apenas o seu pseudônimo: em.dor.fina.
















Bolhas de sabão e desejo

É um exercício constante. Chego em casa e paro em frente à minha coleção. Escolho uma. E bebo. Engulo todo o líquido, que desce ardendo pela minha garganta. Talvez seja a dor. Ou o sabão. As bolinhas, elas, o motivo pelo qual me embriago, saem uma a uma pela boca. Pequenas, grandes, médias. Torpe, vejo meus desejos. Coloridos, leves, transparentes, bonitos, eles voam. Vão para o alto. Cada um com a sua bolinha. E eu, parada, tonta, entrego-me àquela dança. E rio. E quanto mais rio, mais bolinhas me atravessam a garganta. E dançam. E depois estouram-se todas no ar. Porque vem a sede. E a água serve apenas para diluir os desejos que não se pode sentir só. E a dança que não se baila só. Tampouco o riso, que, quando dado só, perde a graça com o tempo. Que nem a bolinha, que antes de estourar fica cinza. E sem brilho. Pra sumir de cansaço.

24 de setembro de 2009



Sou mesmo uma pessoa privilegiada. Estou rodeada de amigos talentosos. Há alguns dias atrás, meu amigo e padrinho, Thiago Lins, me mostrou mais um de seus poemas. Bom, talvez seja um conto. Conto-poema ou poema-conto. Não sei definir bem. Nem ele. Mas isso não importa. O fato é que me encantei pelo que li e resolvi compartilhar com vocês. Uma forma, também, de homenagear ao meu amigo e expressar o carinho e a enorme admiração que nutro por ele.

GOTAS

I

Fim de tarde.
Uma mulher caminha na esquina.
Pára.
Detém-se frente à vitrine.
Um relógio.
Relembra.
1975.
Rostos colididos.
Um sorriso, um convite.
Uma entrega.
Dia seguinte.
Mário traz flores.
Ela sorri.
Numa certa noite, ele olha para o relógio.
Precisa ir.
Cedo?
Não, tarde.
Um compromisso, ele diz.
Ela sorri mais uma vez.
Num certo dia, Mário não se encontra mais em casa.

II

2005.
As nuvens comungam.
Ameaça chover.
Olha rápido para o relógio.
Precisa ir.
Demora-se mais um pouco.
Caminha.
Caem as primeiras gotas.
Que bailam com as primeiras lágrimas.

30 de agosto de 2009



Máscaras

Um sorriso disfarça a dor
e esconde segredos:
solidão, desespero, medo.

Uma palavra dissimula
e guarda no peito
uma alma que sonha:
lágrimas poucas, exaustas, anônimas.

15 de agosto de 2009














PACTO DE SANGUE

Na terça-feira passada, foi o meu aniversário. Apaixonada por cinema e literatura como sou (e meus amigos sabem disso), ganhei alguns livros e filmes. Hoje, assisti - com mais três amigos - a um desses filmes (presente do mestre e amigo Mayrant Gallo): Pacto de Sangue, dirigido por Billy Wilder e com roteiro de Wilder e Raymond Chandler. Baseado no livro Indenização em dobro de James M. Cain, Pacto de Sangue conseguiu prender a minha atenção tanto quanto os filmes hitchcockianos. O filme começa com o corretor de seguros Walter Neff (Fred MacMurray) chegando à empresa na qual trabalha, sentando à mesa do chefe e confessando que matou um homem por dinheiro e por uma mulher, mas não conseguiu o dinheiro, nem ficou com a mulher. Assim, o filme se inicia revelando o seu final, o que prova o fato de que o que mais importa numa narrativa não é o que nela acontece, mas como acontece. Nas primeiras cenas já sabemos qual será o término do filme, mas ele nos envolve de tal forma, que ficamos ávidos em acompanhar a história até o último momento. E o constante suspense chega ao ápice na cena em que Neff recebe o chefe e amigo Keyes (Edward G. Robinson) enquanto espera pela Sra. Dietrichson (Barbara Stanwyck), mulher sedutora e calculista por quem se apaixona. Considerado o primeiro filme noir, Pacto de Sangue desenvolve uma trama que mistura amor, amizade, sedução, sexo (ainda que sugerido), adultério, crime. Um filme com diálogos ácidos e primorosos. O mesmo se pode dizer da narração in off feita pelo protagonista, na qual podemos ouvir, por exemplo: Não conseguia ouvir meus próprios passos. Era a caminhada de um homem morto. Sem esquecer da pitada de humor, na figura do analista de seguros Keyes e seus pressentimentos (seu homenzinho infalível), seu faro para assassinatos. Também chama a atenção a bonita amizade entre Neff e Keyes, motivo pelo qual Keyes, que nunca falhou com seus pressentimentos, jamais desconfiou de Neff: - Sabe porque não conseguiu solucionar este caso, Keyes? Vou lhe contar. Porque o cara que procurava estava muito próximo. Ele estava na frente da sua mesa. - Ele estava mais próximo do que isso, Walter. - Eu também te amo. E aquela inversão no desfecho do filme: Keyes que sempre tinha seu cigarro acendido por Walter, é agora quem acende, provavelmente, o último cigarro do amigo. É a ironia final. Dizem que o próprio Hitchcock, ao assistir a este filme, afirmou ter encontrado, enfim, em Billy Wilder, alguém que pudesse fazer par à sua obra. Se ele disse isso, quem sou eu para discordar do velho Hitch?

5 de agosto de 2009

Um encontro especial...


Obrigada aos artistas, colegas organizadores, monitores e participantes, pela maravilhosa presença. Foi um enorme prazer contar com vocês.

16 de julho de 2009



IMPULSOS

Vontade de fazer poesia.
Escrevo e sinto-me livre, única,
movida por um dom supremo,
e menos mortal.

Mas, uma enorme dúvida:
Meus versos, realmente, o que são?

Penso, às vezes, que não passam
de meros impulsos sem arte.
Mas, se indagares de mim a verdade,
juro não saber a resposta.

E mesmo agora, neste momento em que me lês,
continua o mistério.
Talvez eu seja poeta, talvez não,
mas que importa isso?
Estamos vivos, e ler é só um remédio.

8 de julho de 2009



Fragmentos do Tempo

Escrevo. Sim, de vez em quando, rabisco uns versos. Apesar disso, nunca me considerei (nem me considero) escritora, muito menos poeta (ou poetisa). Desconfio da minha escrita e tenho receio de publicar o que escrevo. No entanto, os poucos amigos para os quais, às vezes, mostro alguns versos me elogiam e me incentivam a publicar. Já faz algum tempo que estou tentando perder esse medo. Continuo desconfiando dos meus escritos, mas decidi mostrá-los a mais pessoas, pedir sugestões, sempre querendo me convencer e acreditar no que escuto dos meus amigos (que para mim são suspeitos). Dias atrás, mostrei três poemas meus a uma escritora que admiro muito e comentei com ela sobre as dúvidas que nutro em relação a minha escrita. Ela me respondeu que “os maiores escritores são aqueles que duvidam que o são”, que gostou dos meus poemas e que era para eu continuar “duvidando, lendo, escrevendo, reescrevendo” e me arriscando. Suas palavras me marcaram e resolvi me arriscar. Não agora. Farei isso, em breve, publicando alguns dos meus pálidos versos neste espaço. O que pretendi com toda essa confissão, na verdade, foi divulgar o Fragmentos do Tempo, blog de uma grande amiga que, assim como eu, desconfia do que escreve, mas, devido a uma pequena insistência minha, resolveu, também, se arriscar com as palavras.

16 de junho de 2009

Convite 


 




















O cartaz acima é uma criação do escritor Gustavo Rios. A organização do I Encontro Literário da UEFS o agradece pelo precioso apoio.

7 de junho de 2009















ENCONTROS E DESENCONTROS

Em 2005, quando entrei na UEFS, para cursar Letras Vernáculas, tive, logo no primeiro semestre, a sorte de ter o escritor Mayrant Gallo, que mantém o blogue Não Leia!, como o meu professor de Teoria Literária I. Aprendi  - e continuo aprendendo - muito com este grande mestre e amigo. Por meio de suas aulas, minha paixão pela Literatura se multiplicou e comecei a me apaixonar por Cinema. Um dos filmes que assisti, naquele ano, indicado por Mayrant foi, exatamente, Lost In Translation - em português, Encontros e Desencontros - de Sofia Coppola. Lembro-me que não apreciei muito o filme. Até comentei com Mayrant que o achei monótono. Nem sei se ele ainda se lembra disso. No entanto, naquela ocasião, ainda estava muito ligada aos modelos de filmes hollywoodianos, com finais felizes e previsíveis. Achei monótono justamente porque queria que Bob (Bill Murray) e Charlotte (Scarlett Johansson) ficassem juntos, decidissem, de uma vez, jogar tudo pro ar. Ele, mulher e filhos, ela, aquele marido infantil. Como não foi o que aconteceu (porque não era preciso), acabei me frustrando. Ano passado, assisti de novo ao filme. Meu Deus, como a gente muda nossa visão com o tempo! Hoje, Lost In Translation é, simplesmente, o meu filme favorito. Agora percebo que, na vida, nem sempre temos coragem de ir além, de mudar o status quo, principalmente, quando estamos em meio a crises existenciais, como Bob e Charlotte. Daí a letra da música que Bob cantou no karaokê expressar muito bem o que eles estavam vivendo naquele momento: Folhas caídas durante a noite / Quem pode dizer para onde vão / Livres como o vento / Aprendendo cheias de esperança / Porque o mar na maré / Não pode mudar / Mais que isso. Não esqueço o que Mayrant, comentando sobre este filme comigo, escreveu: Aquele final, ambíguo, lhe dá um sentido maior, que é o da própria vida. Lost In Translation é pura arte. Um filme tocante, belo, sempre atual. Um filme para ser visto e revisto sempre. Um outro motivo que me faz ser apaixonada por este filme é a enorme identificação que tenho com os protagonistas, perdidos em Tóquio, num mundo que não é o deles. Constantemente, sinto-me assim, perdida, deslocada. Hoje, em casa, senti, mais do que nunca, essa sensação de deslocamento. A escritora Renata Belmonte, publicou, em 2007, no blogue Vestígios da Senhorita B., um post sobre este filme e comentou que, ao assisti-lo, se perguntou como alguém poderia ter feito um filme sobre a vida dela sem a ter avisado. Eu também me pergunto isso. No mês passado, dois amados amigos, Bárbara Kelli e Thiago Lins, me deram de presente um DVD de Lost In Translation. Nem preciso dizer o quanto fiquei feliz. Agora mesmo vou assistir, de novo, ao filme de Sofia Coppola, ou melhor, ao meu filme, ao filme da minha vida.

3 de junho de 2009



ENSINAMENTO

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
"Coitado, até essa hora no serviço pesado".
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


PRADO, Adélia. In: Poesia Reunida. São Paulo: Arx, 1991.

10 de abril de 2009

Desenho de Hugo Canuto

"Uma mulher retorna ao quarto de sua infância. No armário, encontra um único vestido, o último sobrevivente de um tempo jamais esquecido. Observa a cama abandonada há muitos anos. Na cabeceira, nota que permanece intacto o livro de sempre: certas coisas nunca envelhecem. Despe-se completamente e veste com cuidado a roupa que tanto esperou. Deita no colchão já antigo e se enrola no lençol, eternamente bem arrumado. Percebe que está quase pronta para partir. Apenas falta um detalhe, o mais importante de todos. Abre o livro e relê a epígrafe que se apresenta em negrito: Não há sonho que morra sem deixar vestígios. Srta. B., pouco antes de desaparecer."

BELMONTE, Renata. Vestígios da Senhorita B. Salvador: P55 Edições, 2009.