30 de agosto de 2010

Como havia anunciado na postagem anterior, não fui ao lançamento dos livros de Ângela Vilma e Mônica Menezes. Confesso: perdi o que era imperdível. No entanto, Mayrant Gallo, gentilmente, comprou os livros e me enviou por Andréia, sua esposa, que ensina na UEFS. Sou  grata aos dois, por tudo. Com os livros em mãos, nem esperei chegar ao conforto do meu lar para iniciar a leitura. Contudo, logo me veio um questionamento: eu estou lendo ou estou sendo lida? Quintana nos ensinou: “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente... e não a gente a ele!”. Os versos de Mônica, sempre leves, fizeram uma leitura de mim, com seus gritos, seus silêncios, suas máscaras, seus mares e suas borboletas. Nem sei mais o que comentar. Diante deles, como escrevi, certa vez: "só me resta / dizer sim".


SOLUÇO
Para Monalisa 

todos os meus soluços são relâmpegos
anunciam trovões e tempestades

mas apenas anunciam

todos os meus gritos são soluços
todos os soluços silencio


MENEZES, Mônica. Estranhamentos. Salvador: P55 Edições, 2010. 



E a poesia de Ângela? Eu ia lendo os seus versos e pensando: quero escrever assim quando eu crescer. O que é praticamente impossível, eu sei, mas não custa nada sonhar. Os versos de Ângela me envolveram de forma especial: repletos de solidão, ausência, inquietude, silêncio, saudade, cansaço e, ao mesmo tempo, cheios de amor, ternura, entrega, carinho, sentidos, revelando uma menina-mulher clamando por Antonio. Sem dúvida, a leitura de Poemas para Antonio e de Estranhamentos me proporcionou um prazer imenso, daqueles que só a arte, a literatura, a genuína poesia podem proporcionar. 


PARA ADORMECER

Dê-me, amigo,
Tua paciência pela vida
E me faça desistir do cansaço
Dessas noites e de tantas outras.

Pressinta meus gestos guardados
Retire-os dos baús entulhados
Tocando-os com dedos esquecidos.

Depois,
Não me fales da vida.
Guardemos a alegria silenciosa.

VILMA, Ângela. Poemas para Antonio. Salvador: P55 Edições, 2010.

22 de agosto de 2010

Lançamento IMPERDÍVEL
 
















Ângela Vilma e Mônica Menezes estarão lançando os seus livros, respectivamente, Poemas para Antonio e Estranhamentos, na livraria Tom do Saber, no dia 24 de agosto. Estou muito feliz. Esperei muito por este lançamento. As duas, além de pessoas e escritoras maravilhosas, são minhas amigas. A minha alegria só não está completa, porque não poderei comparecer. Sim, eu sei que coloquei no título do post que este é um lançamento imperdível e, de fato, é. Mas, para o meu grande desgosto, não moro em Salvador e ficou complicado o meu deslocamento, na terça. No entanto, não poderei estar lá fisicamente, mas me deslocarei em pensamento e coração. E já pedi a um outro escritor, amigo meu, para comprar os livros para mim. Autografados, claro. E, por favor, não façam como eu, prestigiem este grande evento, garanto que sairão de lá encantados. Eu tenho certeza.

Visitem o blogue: http://angelaemonica.wordpress.com/

15 de agosto de 2010

Lendo a antologia, organizada por Assis Brasil, A poesia baiana do século XX, deparei-me com os versos abaixo, da itabunense Valdelice Pinheiro Soares, falecida em 1993. Sem dúvida, um poema que eu gostaria de ter escrito. 














RABISCOS

Deixo que a mão vá
como se fosse asa
e traga do silêncio
de mim
o riso,
ou a palavra
que eu não digo,
ou a música
que eu não faço.
Deixo que a mão vá
e busque
na solidão
de onde não me sei,
o risco que me traça
o grito,
a linha que me traz
a voz.
Deixo que a mão vá e,
como se fosse um deus
fiando luz,
me crie
de meu nada.

6 de agosto de 2010

DESLOCAMENTOS

Nunca estive muito satisfeita com o título do meu blogue. No entanto, por falta de criatividade, fui deixando IMAGENS E PALAVRAS. Ontem, resolvi mudar. Comecei a pensar em outros títulos. Sempre gostei muito do Estranhamentos, que é o título do blogue da minha amiga M., pois, quase sempre, me sinto assim: estranha. Tentei, então, pensar em uma outra palavra com a qual eu também me identificasse e, logo, me veio à mente: deslocada. De fato, é muito comum me sentir completamente deslocada, com a impressão de que estou no lugar errado, de que deveria estar em outro lugar. E, quando me sinto deste modo, o meu refúgio é a arte: pego um livro para ler, assisto a um filme ou entro na internet para escrever no meu blogue ou para visitar os blogues dos "amigos, que falam a mesma língua", como escreveu a minha amiga Aeronauta.

Cheguei a conclusão de que quando não me sinto bem onde estou, este espaço virtual é um dos lugares para os quais me desloco. Aqui é um caminho a seguir. Aqui mudo de direção, acho um rumo. Aqui sinto que é, também, o meu lugar. Aqui me encontro e encontro os amigos que falam a mesma língua. Portanto, acredito que DESLOCAMENTOS é o nome que melhor define o meu blogue, porque melhor define a mim. Espero que vocês aprovem a mudança. 

No mais, quero aproveitar o momento e publicar um poema que escrevi, há um bom tempo, e que dediquei a minha amiga escritora Renata Belmonte, pois foram nos textos postados por ela, em seu blogue, Vestígios da Senhorita B., que eu encontrei a inspiração para escrever os versos abaixo:



Deslocamentos
Para Renata Belmonte

Não me identifico aqui.
Não me reconheço ali.

Encontro-me numa estrada,
Seguindo...

Surgindo de mim.