18 de dezembro de 2012

Bolsa Funarte de Criação Literária












No dia 12 de dezembro, saiu o resultado da Bolsa de Criação Literária da Biblioteca Nacional. Eu fui uma das contempladas (ainda nem acredito), com o projeto do livro Ruínas. Fiquei feliz. Pela bolsa, claro, mas, principalmente, pelo fato de pessoas que não me conheciam terem gostado dos meus textos. Desconfiada como sou com o que escrevo, bom saber disso. Agradeço à Gal Meirelles - que me ajudou com a escrita do projeto - e ao poeta Roberval Pereyr - que escolheu, comigo, os minicontos a serem enviados. Sou grata ainda a todos os meus amigos, que sempre me incentivam e torcem por mim.

7 de dezembro de 2012

Convite

(clique para ampliar)



No dia 13 de dezembro, às 17 horas, estarei participando do Leituras Públicas: o encontro do texto com o leitor, ao lado de Elieser César, Igor Rossoni e Mariana Paiva. A mediação é de Gal Meirelles.

Para maiores informações, clique aqui.


10 de outubro de 2012

Uma lembrança vermelha













 


Quando criança, acreditava que ser policial significava fazer justiça, acabar com a impunidade. Sabia, exatamente, o que seria quando adulto. Sempre quis combater o crime. O problema é que nunca me dei muito bem com corpos ensanguentados. Pensei várias vezes em mudar de profissão. Talvez, não tenha mesmo feito a escolha correta. No entanto, sempre decido continuar tentando. Afinal, tenho apenas dois anos na polícia, devo me acostumar. Numa ocorrência, há um mês, me deparei com um professor assassinado no jardim de uma bonita mansão. Tinha uma expressão de terror nos olhos. Ao seu redor, sangue e rosas vermelhas. Cuidei de todo o caso, tomei as devidas providências e fui embora arrasado. Ao passar por um jovem lavando carros imaginei que, pelo menos, ele chegaria feliz em casa ao fim do dia. Bobagem. Não podia pensar assim. Aquele rapaz que iria gostar de estar no meu lugar. Durante toda a semana seguinte, não consegui me concentrar nos relatórios. A imagem do professor me perseguia e eu resolvi que precisava de férias. Logo estaria bem. Fiz uma viagem ao exterior e, de fato, voltei revigorado. Só necessitava, agora, de um bom banho e estaria pronto para retornar ao trabalho. Vesti de novo a farda e segui para a corporação. Na esquina com a avenida principal, uma floricultura. Lembrei de um homem morto e do seu olhar. Quanto será mesmo o salário de um lavador de carros?

29 de setembro de 2012

Romance














Era romancista consagrada. Passou o dia inteiro escrevendo uma história de amor. À noite, deitou-se na cama vazia.

26 de setembro de 2012

Os intocáveis



Os intocáveis, de Boileau-Narcejac, pseudônimo forjado pela dupla de escritores franceses Pierre Boileau e Thomas Narcejac, é um claro exemplo do relato policial de ação. O romance conta a história de dois párias, intocáveis pela desonra: o desempregado Jean-Marie Quéré e o ex-prisioneiro Ronan De Guer. Ler mais.

20 de setembro de 2012

Amor















Do meu quarto escuro, contemplo a lua.
Distante (e só), ele faz o mesmo.

Não o conheço.

Quando olharemos o céu
da mesma janela?

8 de setembro de 2012

Téo

O rapaz e o cão (1905) - Pablo Picasso
Mais do que um amigo, era o meu confidente. A ele, confessava todas as minhas feridas. Não me julgava, apenas ouvia. Às noites, colocava-o no meu colo, pois percebia que precisava de carinho. Sim, sempre fui carente de afeto. Certa manhã, subimos o morro para levar o almoço dos meus avós – como fazíamos todos os dias – e, na metade do caminho, tiros. Corri o mais rápido que pude, puxando Téo pela coleira. De repente, tive que parar. Olhei para trás. Havia uma mancha vermelha no pescoço do meu companheiro. Carreguei-o até o beco mais próximo, ele agonizava em meus braços. Enquanto isso, eu, que ainda não tinha aprendido a morrer, sangrava em silêncio.

23 de agosto de 2012

As peças do relógio

(clique para aumentar a imagem)

"O relógio que habita esse belo livro de Thiago Lins tem três grandes peças: inicialmente, os poemas inseridos no capítulo denominado 'Tapas'; vindo a seguir os minicontos da segunda parte, 'A fome de um homem', para desaguar nos poemas da terceira e última seção, 'Partilha'. Cada peça desse grande relógio é desmontada a partir de sua construção, a fim de que possamos tentar compreender um dos maiores mistérios que há no mundo: o tempo dos homens." 

 (Ângela Vilma)

Com o texto acima, a escritora Ângela Vilma inicia a apresentação do livro do meu grande amigo, padrinho e quase irmão, Thiago Lins. E eu posso até ser suspeita, mas o livro está um primor, repleto de belos e fortes poemas. 

Uma pequena prévia:

TAPAS

Meu pai desferiu três tapas:
O primeiro, em casa.
O segundo, na escola.
O terceiro, pro resto da vida.


LINS, Thiago. In: As peças do relógio. Rio de Janeiro: Multifoco, 2012, p. 20.

11 de agosto de 2012

Aniversário





A família toda reunida, 
amigos, presentes, abraços,
desejos de felicidade.

A vida inteira pela frente.

E aquela dor insistente
atravessando o peito.

26 de julho de 2012

Rotina














       Chegou em casa tarde da noite. Abriu a porta do quarto e um cubículo não muito limpo, não muito claro e nem um pouco convidativo a recebeu. Tirou o vestido sujo e foi até o banheiro. Permitiu que escorresse sobre o seu corpo a água fria e salobra que pingava do chuveiro. Dez minutos se passaram e estava de volta ao seu acolhedor aposento, contemplando-se diante do velho espelho empoeirado. Sentiu-se desejável, assim como a sua avó deve ter se sentido ao completar 80 anos. Lembrou-se, repentinamente, da rotina que a esperava no dia seguinte e esse pensamento a deixou tão entusiasmada quanto uma dor de dente. Engoliu alguns comprimidos de um pequeno frasco que descansava no fundo da gaveta do criado-mudo e deitou naquilo que aceitava chamar de cama. Dormiu. Cinco horas depois e o insistente toque do despertador a acordou. Foi quando se deu conta, quase com horror, de que ainda estava viva.

12 de junho de 2012

Ondas















Este mar
que avança, submerge
e leva suas águas
ao sabor do vento,

é feito das lágrimas
de uma mulher só
que lava suas mágoas
de um outro tempo.

2 de junho de 2012

Crimes

Era início de abril, estava numa livraria, em Salvador, com Mayrant e Andréia Gallo, procurando alguns livros policiais, quando me deparei com Crimes, escrito pelo criminalista alemão Ferdinand Von Schirach. Como eu já tinha comprado vários livros, disse a Mayrant que não levaria este, já que não conhecia o autor, não sabia se valeria a pena. Mas Mayrant se interessou pelo livro e me disse que compraria, leria e, caso fosse bom, me emprestaria. Dias depois, Andréia – que é professora da UEFS, onde também trabalho – chegou com o livro, empréstimo do amigo Mayrant. Como todas as indicações do Gallo são certeiras, soube naquele momento que havíamos, de fato, encontrado um bom livro. Crimes já foi publicado em dezenas de países e, só na Alemanha, vendeu mais de 350 mil exemplares. Quanto ao gênero dos onze relatos, discute-se a cada publicação. Nos EUA, o livro foi considerado como ficção; no Brasil, como não ficção. “O que não muda o fato de serem textos magnificamente escritos, com a rara capacidade de borrar qualquer fronteira entre vida e arte, realidade e fabulação”, nos observa Luciana Villas-Boas, que assina a orelha. O próprio autor defende se tratarem de fatos reais, no entanto, no prefácio de Heisenberg, escolhido pelo advogado, está escrito: “A realidade da qual podemos falar nunca é a realidade”. No fundo, se é ficção ou não ficção - ou as duas coisas - não importa tanto. “O grande mérito do livro é mostrar que a sociedade moderna não pode se livrar do crime, porque este a integra e a movimenta. Todos os contos, de certa forma, seguem este princípio”, escreveu Mayrant Gallo. O fato é que o livro merece a leitura. Crimes nos envolve, nos emociona, nos inquieta, nos deixa perguntas sem respostas, nos causa terror e compaixão, nos faz torcer pela liberdade de um homem aparentemente inofensivo que, aos 72 anos, mata a mulher e a corta em pedacinhos, nos obriga a refletir: "Chutando uma castanha que caíra em seu caminho, continuou descendo a avenida lentamente, enquanto pensava no fato de que a vida era realmente estranha." (Verão, p. 102). Sim, a vida é muito estranha. E como é complexo saber o que se passa na mente de quem comete um crime e, principalmente, o quanto é difícil - e tão limitado - qualquer julgamento. 

20 de maio de 2012

Inspiração















Diante de uma folha em branco
- naquela nebulosa tarde -
decidi escrever um poema.

Com a ponta da caneta no papel
inscrevi ali minha vontade,
apenas.

8 de maio de 2012

Laboratório de poéticas

















 
Mais uma vez, sou grata a José Inácio Vieira de Melo, que selecionou 9 poetas para ilustrar a produção contemporânea da poesia na Bahia, em um artigo para a revista "Laboratório de Poéticas", e me colocou ao lado de nomes como Ricardo Thadeu, Sandro Ornellas, Vitor Nascimento Sá, Emmanuel Mirdad, entre outros. 

Conheça a revista clicando aqui. Os meus poemas estão nas páginas 58 e 59.

21 de abril de 2012

A noite















       Tenta dormir. Pela milésima vez, vê o seu rosto. Acorda assustada, suando frio, mas não desperta. Aquela imagem resiste aos olhos abertos. Deus, definitivamente, parou de escutar as suas preces. Oito meses se passaram e ele permanece. Já cortou encontros, telefonemas, palavras escritas e outras dores. Tudo em vão: “o passado não passa”, disse o poeta. A ponte rachou e ela continua no mesmo lugar. Não consegue vislumbrar outro caminho. A noite a invade. Ela se fecha em seu canto e veste os frios lençóis. Tenta dormir.

9 de abril de 2012

Herança
















há uma mangueira em minha vida
não tive barbies, bicicletas
ou festas de aniversário
só uma velha e frondosa mangueira
a mangueira me deu tudo
e eu nunca soube ser muito infeliz

MENEZES, Mônica. In: Estranhamentos. P55 Edições, 2010.

Sim, sei que precisamos separar o eu-poético do poeta. Não faltei a essa aula de Literatura. No entanto, espero que a poetisa Mônica Menezes tenha falado dela quando escreveu os versos acima. Porque ela não merece mesmo "ser muito infeliz". Mônica é uma pessoa linda, uma amiga querida, que merece toda a felicidade do mundo. E não apenas hoje, no dia do seu aniversário, mas sempre. Pois se "felicidade se acha é só em horinhas de descuido", como nos ensinou o velho Guimarães Rosa, torço para que os momentos de felicidade de Mônica sejam constantes. PARABÉNS, amiga. Adoro a tua poesia, adoro você. 

Um pouco mais do talento de Mônica Menezes, clicando aqui.

3 de abril de 2012

Liberdade














Pediu as suas chaves 
de volta, 
implorou para sair
daquela prisão.

Queria voltar a ver a luz,
queria por um fim
em sua aflição.

Mas quando a porta
se abriu,
perdeu as forças
e sentiu o mais completo
abandono.

Agora,
está trancada no quarto
e só deseja a escuridão
e o sono.

18 de março de 2012

Sereia



        Preferia uma praia, mas como morava em uma cidade na qual o mar não fazia parte dos cartões-postais, passou o dia inteiro numa piscina. E esta alternativa não a desagradou. Poder estar dentro d’água, nadando até os braços e as pernas perderem as forças, não desejaria nada melhor para um domingo. Pensa, às vezes, que deveria ter nadadeiras em lugar dos pés. Sai da piscina, volta ao quarto, deita na cama, dorme. O sol entra pela janela. Se pudesse, ficaria ali, por mais algumas horas, ou levantaria apenas para cair, de novo, na piscina. Começa a se imaginar morando em um aquário. No entanto, precisa acordar, trabalhar, viver. O dia nasceu. Ela também. E uma mulher, não um peixe.

26 de fevereiro de 2012

Meia noite em Paris

















        Ontem, assisti a Meia noite em Paris. Continuo me perguntando como Woody Allen consegue escrever e dirigir tantas obras-primas. O filme, que foi indicado ao Oscar 2012, começa ao som da canção “Si tu vois ma mère”, de Sidney Bechet, e troca os créditos iniciais por um delicioso passeio pela Cidade Luz. Nos primeiros minutos, já fui “fisgada”, como aconteceu com a personagem Adriana, ao ouvir as palavras iniciais do livro do nosso protagonista.
A história é de Gil Pender (Owen Wilson), um roteirista frustrado de Hollywood, que resolve escrever um romance. Noivo de uma mulher fútil - que não vê nada de especial em caminhar por Paris, preferindo a companhia de seu “amigo” pedante – Gil é nostálgico, sente-se deslocado na era em que vive e acha que nasceu tarde demais, que estaria melhor na Paris dos anos 20. E é para lá que ele acaba fazendo uma “viagem” fantástica, depois que toca as doze badaladas. 
Ao entrar em um misterioso carro, ele descobre outra cidade, repleta de artistas como Hemingway, Stein, Fitzgerald, Dalí, Buñuel, Eliot, Porter, entre outros, e conhece Adriana (Marion Cotillard) – amante de Picasso – que também não gosta do seu momento e sonha com a Belle Époque francesa. O escritor percebe, então, que nos voltamos ao passado, porque o presente é sempre “um pouco insatisfatório, porque a vida é um pouco insatisfatória”.
Os diálogos são primorosos, a fotografia é linda e confesso que me identifiquei com a angústia de Gil Pender e de Adriana, pois quase sempre me sinto nostálgica, deslocada, pensando que deveria ter nascido em outro tempo. Acho que deveria era viajar. Quem sabe, um dia, eu possa caminhar pelas ruas parisienses. Talvez, eu só precise mesmo de um instante chuvoso em Paris.