14 de dezembro de 2014

Vestígios

(A cama do defunto, de Edvard Munch)


















Não, não somos nada

e nunca seremos.

Não passamos de simples espectros do que foram os outros,
sombras dissipadas na parede.

Ontem, corremos em direção ao mar,
construímos castelos de areia,
conversamos com amigos imaginários.

Hoje, num leito branco e cheirando a éter,
abrigamos mais um tumor ancestral,
e esperamos pelo dia que sempre vem,
única verdade inabalável.

Amanhã, quem sabe,
nos tornemos vestígios,
lembranças escusas na mente de alguém.

Um comentário:

  1. Às vezes as palavras ferem sobretudo quando nelas o lirismo irrompe revelando o um saber tão ancestral quanto o tumor: o sexto sentido.
    É sempre bom ouvir a tua voz trazendo-nos o mistério da criação...
    Um grande abraço, Lidiane!

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