Talvez seja um pouco tarde para escrever sobre
o assunto, mas apenas ontem, ao ler uma matéria sobre a morte de Walmor Chagas,
fiquei inquieta. O ator, aos 82 anos, sofria de uma doença ocular que o impedia
de ler (uma das coisas que mais gostava), ficando, para isso, dependente da
filha. Começou, então, a achar que estava incomodando. "Num dia é o
pára-choque, no outro é a rebimboca da parafuseta", brincava Walmor
Chagas, com relação aos vários exames que se submetia nos últimos dias.
Diabético, foi diagnosticado também com gastrite e esofagite. Ao conversar com
o amigo Antônio Cardoso, o ator confessou que “queria morrer antes de usar
fraldão”. Camus escreveu que “o suicídio é a grande
questão filosófica de nosso tempo”. Sim, e é tão difícil, pelo menos para mim,
compreender o que leva uma pessoa a tirar a própria vida, enquanto eu, vivo com
medo da morte, por mais que a existência, na maioria das vezes, se mostre
absurda e sem sentido. Quem sabe, com a chegada da velhice, eu possa entender
um pouco melhor tudo isso. Parece claro
que Walmor Chagas cometeu suicídio por imaginar ser um estorvo na vida da
filha, da família, dos amigos. O psicanalista Freud, numa
entrevista concedida ao jornalista americano George Sylvester Viereck, em 1926,
disse algo que me tocou profundamente: “Talvez os deuses sejam gentis conosco,
tornando a vida mais desagradável à medida que envelhecemos. Por fim, a morte
nos parece menos intolerável do que o fardo que carregamos”. Ele devia ter razão. Só nos resta mesmo torcer para
que, no fim da nossa trajetória, possamos aguentar firmes o peso do tempo.
Também fiquei bastante pensativo Lidi. Principalmente quando se falou que ele não se conformava em não conseguia mais ler, o que era uma das coisas que mais gostava de fazer.
ResponderExcluirPois é, amigo Gil. Triste!
ExcluirLidi, que texto bonito, apesar de triste. Uma visão poética dos dias em que "involuiremos".
ResponderExcluirObrigada, Cela, pelo comentário. Fico feliz que tenha gostado do texto, amiga. Saudades de você. Bjs
ExcluirO "tempo que cria é o mesmo que destrói"... Espero que o Freud estivesse certo.
ResponderExcluirSem dúvida, Fabrício. Um abraço.
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