18 de janeiro de 2013

Sobre tédio e ratos famintos

Dois ratos, de Vincent Van Gogh
"[...] Passando a outros temas, me permita perguntar: desde muito, noto em você um sentimento de visível insatisfação, de tédio e, ontem, isso parecia mais acentuado. Não tenciono invadir a sua privacidade, interprete apenas como a inquietação de um amigo. Você já leu Steinbeck, ''Ratos e homens''? Numa passagem do livro, um dos personagens, olhando para dois amigos que se afastam, pergunta: ''O que está roendo esses homens?" Eu pergunto a mesma coisa para você, o que está roendo o seu espírito? Algo se agita em seu interior, algum tipo de insatisfação. O que há com você? Por que parece eternamente em crise? Todos os homens são infelizes, cada um é infeliz a sua maneira, foi com Tolstói que aprendi isso. A infelicidade veio para todos e a angústia também, mas podemos amenizá-la, compreende? Os amigos servem para isso, para dividir o fardo da existência. O que eu posso fazer por você?"

Acabo de receber esse belo e-mail de um grande amigo, pessoa sensível, que conseguiu me enxergar além da superficialidade. Sou mesmo uma pessoa triste, um tanto melancólica, mas não sei precisar por quais motivos. Possuo alguns, que não quero citar aqui, no entanto, às vezes, tenho a impressão de que são apenas pretextos, que eu sempre me senti assim, sozinha, deslocada, desde pequenina. Queria muito ser diferente, mas não consigo. Pensei que, ao menos, fora da literatura, eu disfarçava bem esse meu jeito, parece que não. Confesso, portanto, ao meu amigo: sim, existem alguns ratos famintos dentro de mim.

6 comentários:

  1. Entendo seu deslocamento Lidi.
    Que bom que os amigos estão sempre a disposição.
    Abraço!

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  2. Ler um email desse, tão generoso, já nos permite acreditar na vida. Desculpe-me, Lidi, roubei o email que era pra você e me senti imensamente feliz em saber que existem pessoas que se preocupam com as outras e perguntam isso: "O que eu posso fazer por você?" É tudo que um ser humano precisa ouvir, em seu desamparo latente e eterno.

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    1. Sem dúvida, Ângela. Bom mesmo saber que ainda existem amigos assim. E só pelo fato de ter me enviado esse e-mail, de ter se preocupado comigo, ele já fez tanto por mim. Bjs

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  3. Lidi, sentir-se deslocado nesse mundo acachapante pode ser um bom sinal. Sinal de vida. Siga seu caminho e sua literatura.
    Um beijo

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