2 de junho de 2012

Crimes

Era início de abril, estava numa livraria, em Salvador, com Mayrant e Andréia Gallo, procurando alguns livros policiais, quando me deparei com Crimes, escrito pelo criminalista alemão Ferdinand Von Schirach. Como eu já tinha comprado vários livros, disse a Mayrant que não levaria este, já que não conhecia o autor, não sabia se valeria a pena. Mas Mayrant se interessou pelo livro e me disse que compraria, leria e, caso fosse bom, me emprestaria. Dias depois, Andréia – que é professora da UEFS, onde também trabalho – chegou com o livro, empréstimo do amigo Mayrant. Como todas as indicações do Gallo são certeiras, soube naquele momento que havíamos, de fato, encontrado um bom livro. Crimes já foi publicado em dezenas de países e, só na Alemanha, vendeu mais de 350 mil exemplares. Quanto ao gênero dos onze relatos, discute-se a cada publicação. Nos EUA, o livro foi considerado como ficção; no Brasil, como não ficção. “O que não muda o fato de serem textos magnificamente escritos, com a rara capacidade de borrar qualquer fronteira entre vida e arte, realidade e fabulação”, nos observa Luciana Villas-Boas, que assina a orelha. O próprio autor defende se tratarem de fatos reais, no entanto, no prefácio de Heisenberg, escolhido pelo advogado, está escrito: “A realidade da qual podemos falar nunca é a realidade”. No fundo, se é ficção ou não ficção - ou as duas coisas - não importa tanto. “O grande mérito do livro é mostrar que a sociedade moderna não pode se livrar do crime, porque este a integra e a movimenta. Todos os contos, de certa forma, seguem este princípio”, escreveu Mayrant Gallo. O fato é que o livro merece a leitura. Crimes nos envolve, nos emociona, nos inquieta, nos deixa perguntas sem respostas, nos causa terror e compaixão, nos faz torcer pela liberdade de um homem aparentemente inofensivo que, aos 72 anos, mata a mulher e a corta em pedacinhos, nos obriga a refletir: "Chutando uma castanha que caíra em seu caminho, continuou descendo a avenida lentamente, enquanto pensava no fato de que a vida era realmente estranha." (Verão, p. 102). Sim, a vida é muito estranha. E como é complexo saber o que se passa na mente de quem comete um crime e, principalmente, o quanto é difícil - e tão limitado - qualquer julgamento. 

6 comentários:

  1. Depois do seu comentário e o endosso de Mayrant, Lidiane, só nos resta visitar "Crimes".
    Abr.,
    José Carlos

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    1. Visite "Crimes", José Carlos, você irá gostar.
      Um grande abraço.

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  2. Instigante, Lidi, sua resenha. Resenha da boa leitora que você é. Bjos

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    1. Oh, Ângela, muito obrigada pelo comentário. Eu tenho tentado ser uma boa leitora. Mas sei que ainda preciso melhorar tanto. De qualquer forma, sou uma pessoa privilegiada, pois aprendo sempre com você, Carlos, Mônica, Thiago, Roberval, Mayrant...

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  3. Certo autor afirma que "a violência é um ingrediente das experiências fundamentais que o homem tem de sua própria história, que nos são reveladas através dos arquétipos e mitos, os quais são, portanto, formas como o homem vem vivendo, experimentando e interpretando o fenômeno da violência. Muitas são as fontes onde podem ser estudados esses arquétipos e mitos."
    Jean Bergeret sustenta que existe um instinto fundamental no homem, qual ele denomina " violência fundamental". Essa aptidão inata levaria o ser à busca de conquistas, para a sua sobrevivência, por meio de enfrentamento das barreiras que impedem a expansão do seu ser. O objetivo principal não seria atacar e destruir, mas vencer os obstáculos e garantir a vida.
    Entretanto, muitas vezes, esses obstáculos são pessoas.

    Parabéns, por tudo, Querida Lidi!
    Senti muita vontade de ler esse livro.
    Enzo Figueredo.

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    1. Sendo você um estudante de Direito, imaginei que iria gostar, querido Enzo. Obrigada pela visita. Volte sempre. Bjs

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