18 de março de 2012

Sereia



        Preferia uma praia, mas como morava em uma cidade na qual o mar não fazia parte dos cartões-postais, passou o dia inteiro numa piscina. E esta alternativa não a desagradou. Poder estar dentro d’água, nadando até os braços e as pernas perderem as forças, não desejaria nada melhor para um domingo. Pensa, às vezes, que deveria ter nadadeiras em lugar dos pés. Sai da piscina, volta ao quarto, deita na cama, dorme. O sol entra pela janela. Se pudesse, ficaria ali, por mais algumas horas, ou levantaria apenas para cair, de novo, na piscina. Começa a se imaginar morando em um aquário. No entanto, precisa acordar, trabalhar, viver. O dia nasceu. Ela também. E uma mulher, não um peixe.

9 comentários:

  1. Belíssimo miniconto, Lidi. Gostei da metáfora "piscina-útero". Às vezes, todos nós precisamos nascer de novo. Abraços.

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    1. Obrigada pelo comentário, amigo Gorj. Vindo de um grande minicontista como você, só posso ficar feliz. Abraços.

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  2. Lindo!Quanta vezes desejamos acordar outro ser, viver em outros ambientes! Ter lido seu texto deixou meu domingo mais poético, Lidi! bjs

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  3. Amei, Lidi!! Esse nosso querer-ser sempre nos levando para os lugares desejados. Ah, esse nosso querer-ser de cada dia!!!
    Bjs
    Sol

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  4. A impiedosa condição de nascer de novo, mesmo em aquários. Belíssimo texto. Aquele abraço. T.

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  5. Bom dia!
    Navegando pelos blogs de amigos encontrei o seu,achei de uma beleza impar.Fico feliz em poder te seguir.
    Belo texto.A vida é assim,acordamos dos sonhos e temos que viver a realidade.
    Grande abraço
    se cuida

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    1. Bom dia. Eu que me sinto feliz por você estar seguindo o Deslocamentos e pelo comentário. Obrigada. Grande abraço.

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  6. De volta ao seu convívio, Lidi. Às vezes, nos recolhemos, quase sempre por necessidade interior. Como o sujeito lírico desse pequeno poema em prosa que se imagina morando em um aquário.
    É tão bom perceber a conjugação de sentidos no texto tendo o mar como o pano de fundo a despertá-los. É isto o que vejo: o teu talento cada dia mais aflorado.
    Os meus agradecimentos pelos teus cuidados e o meu carinho, sempre.
    Abraços,
    José Carlos

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    1. José Carlos, estou feliz com o seu retorno. Sinto falta das suas palavras, da sua amizade. Eu que te agradeço. Um abraço.

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