17 de dezembro de 2011

O longo adeus, de Raymond Chandler

Raymond Chandler, um grande escritor do gênero policial noir
           
"Depois ela sentou-se e levantou-se da cama; foi até o banheiro para dar um jeito no rosto. Trouxe o champanhe. Quando ela voltou, estava sorrindo.
- Desculpe pelo choro. Daqui a seis meses não irei sequer me lembrar do seu nome. Traga o champanhe para a sala. Quero ver luzes.
Fiz o que ela disse. Sentou-se no sofá como antes. Coloquei o champanhe na sua frente. Ela olhou para a taça, mas não tocou nela.
- Terei de me apresentar? – disse eu – Tomaremos um drinque juntos.
- Como hoje?
- Nunca mais será como foi hoje.
Levantou a taça de champanhe, bebeu um pouco, lentamente, virou o corpo no sofá e jogou o resto na minha cara. E começou a chorar de novo. Tirei o lenço, enxuguei meu rosto e enxuguei o dela também.
- Não sei por que fiz isto. Mas pelo amor de Deus não diga que sou mulher e que uma mulher nunca sabe por que faz ou deixa de fazer qualquer coisa.
Servi um pouco mais de champanhe na sua taça e ri. Bebeu-a lentamente, depois virou-se para o outro lado e aninhou-se nos meus joelhos.
- Estou exausta. Você vai ter de me carregar.
Passado um tempo, caiu no sono.
De manhã ainda dormia quando me levantei e fiz café. Tomei um chuveiro, fiz a barba e me vesti. Foi então que ela acordou. Tomamos café da manhã juntos. Chamei um táxi e carreguei sua maleta escada abaixo.
Dissemos adeus um ao outro. Vi o táxi desaparecer. Voltei a subir os degraus e fui até o quarto; arrumei a cama. Havia um fio de cabelo comprido e preto no travesseiro. Havia uma massa informe na boca do meu estômago.
Os franceses têm uma expressão para isso. Os desgraçados dos franceses têm uma frase para tudo e estão sempre com a razão.
Dizer adeus é morrer um pouco."

(CHANDLER, Raymond. O longo adeus. Porto Alegre: L&PM, 2009. p. 365-366) 
 

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