26 de junho de 2011

Mauro Piva, sem título, massa modelar, 2000.



















NADA

Toc! Toc! Não tem nada aqui, só uma pedra a rasgar-me por dentro. O rio que habita em mim já não derrama letra alguma. O olho secou, o lábio secou, a vida secou. O cheiro de mofo a impregnar-me as narinas, o sentimento de morte a avassalar o meu peito. Toc! Toc! O outro insiste. Tudo é secura, eu já disse. Secura sem verbo, secura da carne, secura. Só o formol a preservar o meu corpo, sem rosto, sem vida, sem nada. Tic-tac. Passa o tempo, nada a passar, só há falta. A falta a caminhar com o tempo; o tempo a apontar para morte. A vida é pétrea, disse o poeta. Nada me resta, nada é o que resta, só o fim permanece: penso comigo. A palavra exilou-se de mim, levando consigo a alegria, a tristeza. Ficou esta pedra a cavar-me um vale profundo, sem cor, sem dor, sem beleza, do tamanho da tampa que cobre o universo.  

Adriano Alves

4 comentários:

  1. Sim, a Bípede tem razão. Esse nada arrasou. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Belo, belo demais; profundamente doloroso e bonito. Fico feliz em saber desse diálogo com meu texto. Obrigada, Adriano; e parabéns!!

    ResponderExcluir
  3. perfeito o texto! teve muito bom gosto em escolhê-lo. Passando por aqui para visitá-la, conhecer o seu espaço, e de pronto,já seguindo-a.
    Convido-a a participar do sorteio mensal que acontece em meu blog dirigido aos meus seguidores, basta seguir o blog que você já está concorrendo todo mês a um livro de minha autoria. Aproveita também, para tomarmos um chá juntas e lermos bons livros por aqui e por lá... Sigo-te1
    Bjs

    ResponderExcluir