Quando
criança, acreditava que ser policial significava fazer justiça, acabar com a
impunidade. Sabia, exatamente, o que seria quando adulto. Sempre quis
combater o crime. O problema é que nunca me dei muito bem com corpos
ensanguentados. Pensei várias vezes em mudar de profissão. Talvez, não tenha
mesmo feito a escolha correta. No entanto, sempre decido continuar tentando.
Afinal, tenho apenas dois anos na polícia, devo me acostumar. Numa ocorrência,
há um mês, me deparei com um professor assassinado no jardim de uma
bonita mansão. Tinha uma expressão de terror nos olhos. Ao seu redor,
sangue e rosas vermelhas. Cuidei de todo o caso, tomei as devidas providências
e fui embora arrasado. Ao passar por um jovem lavando carros imaginei que, pelo
menos, ele chegaria feliz em casa ao fim do dia. Bobagem. Não podia pensar
assim. Aquele rapaz que iria gostar de estar no meu lugar. Durante toda a
semana seguinte, não consegui me concentrar nos relatórios. A imagem do
professor me perseguia e eu resolvi que precisava de férias. Logo estaria bem.
Fiz uma viagem ao exterior e, de fato, voltei revigorado. Só necessitava,
agora, de um bom banho e estaria pronto para retornar ao trabalho. Vesti de
novo a farda e segui para a corporação. Na esquina com a avenida principal, uma
floricultura. Lembrei de um homem morto e do seu olhar. Quanto será mesmo o
salário de um lavador de carros?