24 de setembro de 2009



Sou mesmo uma pessoa privilegiada. Estou rodeada de amigos talentosos. Há alguns dias atrás, meu amigo e padrinho, Thiago Lins, me mostrou mais um de seus poemas. Bom, talvez seja um conto. Conto-poema ou poema-conto. Não sei definir bem. Nem ele. Mas isso não importa. O fato é que me encantei pelo que li e resolvi compartilhar com vocês. Uma forma, também, de homenagear ao meu amigo e expressar o carinho e a enorme admiração que nutro por ele.

GOTAS

I

Fim de tarde.
Uma mulher caminha na esquina.
Pára.
Detém-se frente à vitrine.
Um relógio.
Relembra.
1975.
Rostos colididos.
Um sorriso, um convite.
Uma entrega.
Dia seguinte.
Mário traz flores.
Ela sorri.
Numa certa noite, ele olha para o relógio.
Precisa ir.
Cedo?
Não, tarde.
Um compromisso, ele diz.
Ela sorri mais uma vez.
Num certo dia, Mário não se encontra mais em casa.

II

2005.
As nuvens comungam.
Ameaça chover.
Olha rápido para o relógio.
Precisa ir.
Demora-se mais um pouco.
Caminha.
Caem as primeiras gotas.
Que bailam com as primeiras lágrimas.